quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Nada para sempre

Não quero nada para sempre

Porque sempre é muito tempo

E tudo acaba,

A vida acaba.

Só não acaba na imortalidade

Da palavra vida,

Só esta permanece.

 

Também não quero nada

Por pouco tempo,

Preciso do tempo suficiente

Para apreciar, mas não acostumar,

Porque o costume

Elimina o prazer

E o maior prazer é saber que não dura

Mas esperar que aconteça de novo,

Mesmo que não seja igual.

 

Quero o tempo certo

Para que me percebam,

E o tempo justo

Para não ser esquecida,

O tempo “ainda”

Para que me valorizem,

O tempo gasto

Em coisas úteis

E sem tempo para coisas fúteis

Quero o tempo justo e acertado

Para aceitar o amanhã.


Lorena Pires Rostiolla

04/08/2006

O amanhecer

Queria me encontrar de novo,

No amanhecer da vida

Nos movimentos ritmados,

De um útero em construção

Queria sentir de novo

A vontade de nascer,

A força empregada,

Da escuridão para a luz.

Saber como e porque

Sofre-se quando se nasce,

Sofre-se quando se morre,

Vive-se sempre a sofrer.

 

Se fosse a vida tão linda,

Quanto cada amanhecer.

Se cada pessoa fosse um sol,

Cada criança um raio,

A iluminar o mundo,

Eu não faria poesias

Tão sem graça,

Tão sem cor.

 

Não haveria fantasias

Nem sonhos, nem esperanças

Num mundo cheio de amor

O sonho seria a vida

A fantasia, a cor.

Talvez até Deus falasse

Com seus filhos, sem temor.

Seria então a Terra, a rosa

De um universo em flor.

  

Lorena Pires Rostirolla

Criação: em minha adolescência

O universo do bem e do mal

Neste momento

Sinto que o mundo me espera

Assim como o homem

Que ara sua terra e põe lá a semente

Esperando que brote e dê fruto

Assim o mundo espera

Pra me acalentar, me ensinar o belo

E mostrar o pecado

De injúrias e desgraças

E seres que aos poucos

Vão se destruindo.

 

Apesar de toda a violência

De corações enegrecidos

Pelo pó e fuligem,

Espalhados pela indústria da ambição

Ainda assim,

Acredito no mundo,

No universo.

 

Se nele brotou o mal

Assim com a erva daninha

Nasceu no campo do produtor

Que procurou meios de aniquilá-la

Assim também,

Será destruído o mal na Terra

Para que o bem floresça

E alimente com seus frutos

A alma dos que são puros

E bem intencionados

Para que o mundo seja

Coroado com a fé,

Esperança,

E a luz do amor

De Deus.

 

Lorena Pires Rostirolla

Criação: em minha adolescência.

Passos leves

Cheguei com passos leves

Demonstrando no andar,

Minha leveza de espírito

Minha disposição pra amar.

 

Meu coração, tão cansado,

Cansado de procurar,

Um grande amor desejando,

Loucamente encontrar.

 

Encontrei,

 

E a partir desse momento

Cantava, sorria, falava,

Esquecida do tormento,

Que há muito tempo embalava.

 

Amor...

Alma, leve, calma e solta

 

Fez-me ver, sentir na boca

Um gosto de beijo quente,

Fez-me deixar de ser louca,

Transformando-me em amante.

 

Como uma ave no espaço,

Tal como um peixe no mar,

Com passos leves, tão leves

Em silêncio eu vou amar.


Lorena Pires Rostirolla

Criação: em minha adolescência.

Procuro uma saída

Em tudo eu penso

Na folha que cai,

Na ave que voa,

No céu e no sol

Nas pessoas que andam nas ruas.

 

Quanto mais eu penso

Mais me atrai a liberdade

Só quero uma coisa,

Viver livre

O que me importa

Se tudo que vejo

É triste e tão angustiante

Outra vez penso,

Tento lutar contra esta força

Que me empurra,

Tenta me abater.

Mas eu penso

E diante dos outros me calo.

Tento sorrir,

Esconder minha aflição

Tento chorar,

Mas já estou tão cansada

Tento falar,

Mas minha voz se recusa a sair

Sufocada, tento fugir

E quanto mais eu penso

Menos consigo encontrar

“Uma saída”

 

Lorena Pires Rostirolla

Criação: em minha adolescência

Quem se importa?

Quem se importou

Quando o homem gritou:

- O sonho acabou!

- O sol não brilhou!

Mudos

Inertes

Incertos

Curtidos no egoísmo

Cantando sem ritmo,

Cantigas bossais

Seguiam os homens

Sem mães e sem pais

Sem nexo,

Reflexo,

Confusos

Reclusos,

Corações de concreto

Cérebro, nada mais

Cores, brilho, moda...

Olhos sem sentimento,

Em tormento

Nem se preocupam em perguntar:

Ó desgraçado, onde vais?


Lorena Pires Rostirolla

Criação: em minha adolescência

Tudo passa

Parei na sua porta...

Ia bater...

Não tive coragem.

Não sei se importa,

Mas não bati à sua porta.

Passei em frente a sua casa

E não parei,

Sua casa já não comporta mais

Minha presença.

Não ver você tem me feito bem

Quem disse que o sofrimento

Não traz equilíbrio?!

Estou equilibrada

E mais feliz

Por estar sem você.

Não deixei de amar

Mas reconheço

Que o seu amor já não me cabe.

 

Lorena Pires Rostirolla

25/08/2005

Morte e vida

Perdi um sonho.

No sonho, perdi a história

Na estória perdi o fim

Que se perdeu na vida.

 

Ganhei consolo na desgraça,

Ganhei por pouco a graça

Sem graça ganhei a vida,

Na morte.

 

Procuro um sonho

Pra ganhar consolo

Na estória

Que ganhei por pouco

Sem fim

Na graça da morte

Que perdi na vida.

 

Lorena Pires Rostirolla

Criação: na adolescência

Páginas em branco

Ajeitando a vida

Feito capítulo

Com fatos no armário,

Fotos na mente.

 

O livro está escrito

Com páginas em branco,

Olhando para ele

Edito o pensamento

 

Tem sempre algo novo,

Ou o velho se recria.

Nunca verei novamente

Com o mesmo olhar.

 

E tudo que acontece,

A todo instante, muda a vida

E cada instante mutável, é instável

Porque instável é o pensamento!

 

Já não sinto

O que senti há um minuto.

Nem sentirei da mesma forma

O acontecido tempos atrás.

 

Então por que tento descrever

O que é inconstante?

E o livro continua

Com páginas em branco.

 

Lorena Pires Rostirolla

25/05/2004

Desesperança

Quando encarno

A idéia

Desencarno o sonho

O escárnio toma conta

Menosprezo o que antes

Pensava gentileza

Sorrio quando me elogiam

Fico sem palavras

Já não creio

Em mim

Em frases prontas

Uso

Usufruto

Abuso

Enquanto “poetiso”

Escuto meu próprio riso

Rio internamente

Da minha incapacidade

Em ser feliz

Ah...

Quanto mais conquisto

Menos tenho

Quanto mais realizo

Menos sonho

Quanto mais vivo

Menos acredito

Consoante de mim

O devaneio

Dissonante de mim

A ilusão

A vida continua

E a realidade

É crua

 

Lorena Pires Rostirolla

11/05/2005