quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Preciso dizer a que veio esta poesia?

Lama

São dedos que se esforçam por limpar,
Enquanto outros dedos enlameiam.
A rede está formada.
E o coração,
Taquicardicamente,
Pulsa a angústia do inconformismo;
e pergunta:
Por quê? Por quê? Por quê?
Por mais que a luta nos ensine,
Por mais que o passado testemunhe,
A sombra da corrupção
Se concretiza em lama.
E, mais uma vez,
Temos que escolher
Entre a indignação
De saber o correto,
E a tristeza
De saber, que parte
Não sabe escolher,
Ou faz parte da lama.

Lorena Pires Rostirolla
15/10/2004

De Partida

Não sei onde vou chegar,
Nem pensei para onde vou,
Sei que estou de partida.
Onde estou não é o meu lugar.
Preciso descobrir,
Em meio aos meus confusos pensamentos,
Onde eu possa estar
Sem essa angústia
De achar que estou
Sempre no lugar errado.
Pode ser que nunca encontre,
Mas não posso ficar parada,
Enquanto a vida passa.

Lorena Pires Rostirolla
05/11/2004

A distância do amor

As estrelas desenham sua face,
Seus olhos brilham
Iluminando meus olhos.
Não me canso de olhar na noite
O céu iluminado de você.
Sinto que poderia alcançá-lo
Mas, como as estrelas,
Você está distante.

Lorena Pires Rostirolla
Em 05/10/2004

Ninguém

Eu não desisto
De correr atrás do que acredito.
Eu nasci forte,
Não vou deixar que descaminhos me derrubem.
E quanto mais quedas,
Mais agilidade ganho pra me levantar.

Não há ninguém pra destruir meus sonhos

Sigo sozinha,
Com os braços cada vez mais fortes,
Com ombros que podem suportar o peso,
Com olhos que buscam brilhar,
Mesmo com lágrimas.

Não há ninguém pra destruir meus sonhos

Sigo sozinha,
Com pés que sabem pisar a estrada,
Com o coração repleto de emoções,
Com a mente a florescer idéias,
Mesmo cansada.

Não há ninguém pra destruir meus sonhos

Sigo sozinha,
Até encontrar alguém que valha a pena,
Até que eu valha a pena para alguém,
E que possamos andar juntos,
Mesmo que por pouco tempo.

Não há ninguém pra destruir meus sonhos

É...
Não desisto.
Continuo acreditando,
Apesar dos descaminhos e das quedas,
E de estar sozinha.

Lorena Pires Rostirolla
em 13/04/2004

Nunca Mais!

Nunca mais me esperem.
Nunca mais terão de mim,
Além do que quero dar.
E não quero mais.
Nem meus olhos brilharão
Como um dia já brilharam.

Estou fechando as portas.
Indo embora sem olhar
O sal que ficou para trás.
E vejo o sol lá na frente olhando...
Sorrindo pra mim.

Vejo isso com olhos molhados,
As lágrimas fazem com que o sol brilhe mais.
Quero olhar para ele com novos olhos.
Olhos que nunca mais enxergarão o que foi.
Olhos que se divorciaram do passado.

Estou sentindo a poesia que a lua traz.
A romântica lua que me encanta,
Me acompanha em noites de boemia.
Nunca mais a lua ouvirá

Palavra minha em mesa de bar
Que não seja de amor,
Que não transmita música,
E meus sonhos,
Que já não são os mesmos...

Os outros?! Tive que abandonar.
Deixaram de ser sonhos...
Descobri que sonhava errado,
Na contramão da história,
Contra a correnteza
No rio de outros.

Agora quero um rio só pra mim.
Para travar minhas batalhas,
Dar minhas braçadas.
Sem sentir que mãos...
Me puxam para o fundo.

Vou nadar contra a correnteza
Do meu rio,
Abrindo espaços para a minha vida.
Nunca mais para a vida de outros.

Nunca mais!

Lorena Pires Rostirolla
em 04/04/2004

Caminhada

Estava pensando outro dia...
A vida é mais tragédia, que comédia.
É mais dor, que alívio.
É mais guerra, que paz.

Estava pensando outro dia...

Como me deixo enganar,
Em quanto me deixo usar,
E em quanto deixo acontecer.

Estava pensando outro dia...

Que quando me deixo amar,
Meu amor é ainda maior,
Embrenho-me em laços
Que se desfazem,
Se refazem,
Se desatam.
Restam lembranças e momentos.

Estava pensando outro dia...

Quanto mais caminho...
Quando olho para trás...
Me espanto.
Quanto fiz?
Quanto perdi?

Estava pensando outro dia...

Ainda é pouco.
As dores são poucas.
As alegrias são raras.
E eu passo por ambas,
Escondo cada uma delas
Nos compartimentos
Revestidos de vida,
De mim,
De mundo.

Lorena Pires Rostirolla
em 04/04/2004

Tão distante no tempo, mas presente em mim...

À margem da vida

Às vezes me ponho,
À margem da vida
Como num sonho,
Como poeira varrida.

Carros passando,
Pessoas correndo,
Por ruas, sem paz,
Crianças gritando
Com fome, chorando,
Que fome voraz.

À margem da vida
Vejo o presente,
Presente de feras.
Vou ao futuro,
Futuro de guerras
Ah... saudades de eras
Que não voltam mais.

À margem da vida
Vejo-me no ar,
Olhando pra terra
Vejo-me no mar,
No mar, marinheira...
Não sei navegar.

Turbilhão de imagens
Na idade, perdidas
Aventuras vividas
Há tempos atrás.

À margem da vida
Vivo muito mais.

Lorena Pires Rostirolla
Em minha adolescência

Pras noites insones

Noite e Dia

De onde vim?
Não sei.
Nem sei de mim!
Sou viajante,
Viajante aventureira
Em descobrir quem sou.
Por que sou?
Viajante dos meus desencantos,
De minhas desventuras,
Dos meus sonhos
E minhas agruras.
Do amargo fel
De uma noite insone
Regada a vinho e depressão.
Noite entre lágrimas,
Desesperança
E esperança desassistida,
Descabida.
Os amanheceres são
Sempre os mesmos.
O sol nasce a leste
E no oeste
Outra insônia se anuncia.
Outra busca
Que a rotina do dia
Me privou.

Lorena Pires Rostirolla
em 30/03/2005

Mais uma vez...

Mais uma vez...

Houve um tempo em que as alegrias gritavam em meus ouvidos
Era um tempo bom...
Um tempo de conquista.

Houve um tempo em que as tristezas emudeciam
Era um tempo de nó na garganta...
Mas era um tempo de luta.

Houve um tempo em que os esforços eram sobre-humanos
Era um tempo de dúvida...
Mas nunca tempo de desistir.

Houve um tempo de criar e recriar
Era um tempo de entrega e de trabalho
Um tempo de doar sem pedir nada

Houve um tempo de dor, sacrifício e morte
Era um tempo de aprendizado
Um tempo de fortalecer

Houve um tempo de renascer
Era um tempo de agradecimento a quem me amava
Um tempo de amar mais que já amava

Houve um tempo de oportunidade após a vitória
Um tempo de fazer acontecer
Um tempo de resultados

Houve um tempo de esperança e desesperança minha
Era um tempo de expectativa
Um tempo de frustração

Houve um tempo de buscar outro caminho
Um tempo de decisão
Mas um tempo de dor e abstração

Chegou o tempo de virar o jogo...
Mais uma vez...

Lorena Pires Rostirolla
em 04/04/2004

Inaugurando o blog homenageando meu pai

Vou começar a postar neste blog destinado a descansar minhas poesias, uma que é muito importante para mim. A que fiz para o meu pai, Angelo Guaracy Rostirolla, um homem excepcional e que, desde dezembro de 2005 não está mais aqui, neste plano terreno.

Meu pai

Eu me lembro...
Quanto tempo já passou

Sentávamos na varanda
Que prazer indefinível,
Para ouvir o pai falar
Fazia-nos tantas perguntas
Todas elas pra educar
Fazia isso brincando
Nossas mentes alimentando
Nos ditando bons conselhos,
Trazendo sábia alegria,
Que ainda hoje em dia
Ouso eu de desfrutar
...eram bons tempos aqueles!?
De tardinha ele chegava
Corríamos para abraçá-lo
Tirar-lhe os sapatos
Uma disparada louca
Em busca do seu chinelo
Como se fosse uma jóia,
Um tesouro escondido,
Fazíamos isso com gosto
Só para ver em seu rosto
Expressão de alegria
Sim...
Sentávamos na varanda
Ele numa cadeira de nylon,
Velha e verde, confortável
Nós todos à sua volta

Agradeço,
Porque fez brotar em mim
A vontade de saber
E como ele mesmo diz,
Pois tem grande sabedoria,
Ser um rio largo e raso
Saciou a minha sede,
Grande sede de aprender,

Agradeço a você, meu pai,
Pai que amo e admiro,
Pois sei que sou obra sua
Grande parte do que sou
“É você”
Grande parte de você, sou eu.

Esta poesia fiz quando tinha 20 anos e foi um presente de aniversário para meu pai quando ele completou 60 anos.